<h2>As anacrônicas de Ricardo Slayer 34</h2> <strong>Prólogo</strong> Ricardo Slayer, agente multi-dimensional, investigava uma série de distúrbios que estavam preocupando a Agência de Controle Inter-dimensional. Haviam indícios de que uma pessoa havia se tornado capaz contactar suas outras versões em outras dimensões da Existência. Mais do que isso, o suspeito não-identificado poderia ser capaz de mobilizar seus outros "eus" para causar um novo tipo de caos muito além do imaginado. <strong>---</strong> Era uma manhã fria, o inverno estava no seu auge. Ricardo Slayer vestiu o bleiser preto antes de se direcionar até a porta do apartamento. Quando colocou a mão na maçaneta acabou percebendo que não havia despedido-se da esposa. Ela estava de mau-humor naquela manhã, mas talvez fosse ainda pior sair daquela maneira. [[Voltar e despedir-se da esposa|Despedida 1]] [[Sair sem despedir-se|Sair sem despedir]] Era melhor ser um bom marido, pensou Ricardo, dando meia volta. Caminhou até o quarto e não se surpreendeu em ver sua mulher assistindo ao noticiário com a expressão emburrada. Clarisse sempre tivera um temperamento difícil, instável. Ainda que estivessem juntos a quase quatro anos Ricardo sempre tinha a sensação de que poderia ser expulso da vida dela sem hesitação durante um acesso de raiva. Ricardo suspirou e foi sentar-se na beira do colchão. Esperou alguns instantes, em silêncio, sabendo que ela falaria primeiro: — Achei que já tinha saído. — disse Clarisse, tentando parecer indiferente. — Nunca poderia sair sem te dar um beijo. — respondeu Ricardo, com um sorriso. Clarisse o fintou e não conseguiu manter-se séria. — Você é um bobo. — disse, se aproximando e depositando um beijo carinhoso nos lábios do marido. — Talvez. — concordou Ricardo, levantando e desamarrotando o bleiser. — Me desculpe estar tão estressada. Você sabe que me mata ter que ficar em casa. — Eu sei disso. Você sabe que ainda precisa repousar. Logo poderá sair por aí caçando terroristas dimensionais como sempre. — riu-se o homem. — Tente não se meter em apuros enquanto não posso te proteger. — brincou Clarisse, sem conseguir esconder uma real preocupação nessas palavras. Ricardo abriu a boca para responder, mas um alerta sonoro o fez parar. Seu celular. Numa reação natural ele levou a mão ao bolso esquerdo da calça, mas o aparelho não estava lá. De fato o som não vinha de tão próximo. Clarisse virou a cabeça, seguindo o som e percebeu o aparelho no criado-mudo, alcançando-o: — Não acredito que ia esquecer o celular! — exclamou Ricardo, recebendo o aparelho da mulher. Sem olhar para o visor ele atendeu a ligação e levou o telefone ao ouvido. <strong>continua</strong> [[Voltar ao início|Ricardo Slayer 34]]"Ligo para ela no almoço" pensou Ricardo, girando a chave e abrindo a passagem. Bateu a porta de leve, sem se preocupar se Clarisse escutaria ou não. O caminho para o ponto de encontro foi monótono como de costume. Era parte do protocolo utilizar apenas o transporte público, o que tornava tudo muito mais demorado. No ônibus todas as janelas estavam fechadas numa tentativa de evitar o vento gelado do inferno, porém isso tornava o ar dentro do coletivo quente e viciado. Ricardo sentiu um alívio tremendo quando enfim colocou os pés nas calçada da Avenida Onze de Julho, no centro da cidade. Estava a algumas centenas de metros do seu objetivo. O trabalho da Agência de Controle Inter-dimensional era de extremo sigilo mesmo para altos níveis dos governos pelo mundo, portanto uma série de medidas para prevenir o vazamento de informações eram tomadas diariamente. Entre estas medidas, uma das mais custosas era, sem dúvida, a necessidade de mudar o local do escritório de inteligência todos os dias, sem jamais repetir a mesma localidade dentro de dois anos. Todos os dias, ao final do expediente, o gerente do escritório passava o novo endereço aos agentes para o encontro do dia seguinte. No primeiro ano de profissão Ricardo achou aquelas mudanças interessantes. Dizia que uma nova paisagem era sempre boa para as ideias. Depois de seis anos ele já se sentia sempre no mesmo lugar, seja em qual escritório fosse, em qualquer bairro da metrópole de Silveria que fosse. O agente caminhou por mais dois minutos e enfim chegou a um prédio de aspecto antigo. O porteiro abriu a porta e cumprimentou. Ricardo foi até a entrada do elevador que deveria ter duas décadas de uso e apertou o botão. Aguardou. Ricardo lembrou da esposa e pensou se não era melhor falar com ela antes que as horas aumentassem ainda mais a brabeza da sua amada. [[Ligar para Clarisse|Procurar celular]] [[Deixar para ligar na hora do almoço|Não ligar]]— Ué, mas. . . — disse Ricardo, tateando os bolsos e sentindo a falta do aparelho. Uma frustração imediata lhe esquentou o rosto. — Não acredito! E essa droga de elevador que nunca chega também! — explodiu, gesticulando com os braços e abandonando a espera, se dirigindo às escadarias. <strong>continua</strong> [[Voltar ao início|Ricardo Slayer 34]]"Você mima demais sua mulher, Ricardo" pensou o agente, sacudindo a cabeça e rindo-se sozinho. Clarisse era uma mulher forte e independente. Àquela altura já nem devia mais lembrar da sua existência, ocupada com suas leituras e escritos aos quais tanto vinha se dedicando durante aquele período de afastamento do trabalho. Os minutos continuaram transcorrendo e nada do elevador chegar. Sem paciência, Ricardo puxou a manga do bleiser para verificar as horas. Olhou o visor do seu relógio digital, sem realmente gravar os números. Porém, mesmo com a sua visão periférica ele pode perceber algo no mostrador que o fez, após um instante, levantar novamente o braço e puxar o tecido. Sua expressão de leve surpresa se transformou num piscar de olhos em um choque evidente. De repente, Ricardo Slayer foi incapaz de recordar onde estava e porquê. <strong>continua</strong> [[Voltar ao início|Ricardo Slayer 34]]